terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O dia em que o sonho visitou o sol





Artigo Publicado na “Revista da Indústria”, FIESP, nº 153, setembro, 2009
Emanações da noite infinita e silenciosa mesclam-se ao dia e o diálogo torna único este sitio no qual nunca sabemos se estamos regidos pela lua ou pelo sol. É como se a fabulação do sonho permanecesse vívida, as sombras iluminadas e a luz rebaixada. Lugar de fronteiras borradas, do qual escutamos uma voz a nos dizer que a vida é névoa, fluídica, águas vagantes, povoada, aqui e ali, por súbitas imagens aclaradas e pressentidas. Recortes da incerteza. Fragmentos de vestes que um dia teriam servido à Deusa, manto a nos proteger da frialdade desta hora. Liana Timm tem esta rara capacidade, a de registrar o momento em que o sonho noturno torna-se um com a arte do dia.
A artista Liana Timm trabalha com recortes eletrônicos, produz módulos e os compõe em painéis de imagens cada vez mais complexas. É um processo que, se fosse num atelier tradicional, chamaríamos de colagem. Entretanto, o fundamento do seu estúdio é um computador e no lugar de pinceis ela utiliza leyers e esta junção de módulos só poderia ser chamada de colagem a partir do uso liberal da palavra. Compor galáxias a partir de módulos.
Existe a tendência de procurarmos a chave que abre o mistério destas imagens. Talvez ela não exista. É possível que elas somente possam ser contempladas e percebidas. A estabilidade das imagens, a sua integridade, é notável. Não há dúvida da intencionalidade da artista e de que estamos diante de uma obra em si mesmo.
Estranhas figuras e cenários. Elas estão fora do reino da fotografia. Não tem a veracidade, a perspectiva, a invenção, o caráter documental, a memória e a ambigüidade da saudade. Não podemos folhear o álbum de família. Elas não estão, também, no reino dos vivos. As figuras não remetem para a ação, e não lamentamos por elas: nenhuma empatia ou repulsa. Cenas estáticas e uma epiderme peculiar. Estamos diante de uma espécie desconhecida. Um fictício pesquisador descobriu estes seres abissais. Um portal que se abre para outro universo que - paradoxo- está entre nós. O enigma da iconografia de Liana Timm está na inserção do submerso e noturno ao território solar. Fronteiras da percepção. Cada contemplador é uma chave do mistério.

Jacob Klintowitz








Um comentário:

  1. Mais uma vez não poderei deixar de acompanhar as apresentações críticas de JKlintowtz, desta feita diante das obras de Liana Timm, esta artista gaúcha de grande talento.
    Estive em sua mostra em São Paulo e realmente fiz uma viagem ao interior passeando pelas obras de Liana.
    Fica aqui postado meus parabéns pelo texto e crítica de apresentação por JKlintowtiz.
    JF - SCS São Paulo

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