terça-feira, 24 de novembro de 2009

Festival Intergaláctico da Percepção Integral

Que surpresa, ao completar 1000 anos de vida e assistirmos ao Festival Intergaláctico da Percepção Integral e percebemos como os acordes do acordeom de Luis Gonzaga podem deliciar os longilíneos habitantes do Órion e como, nós do Terceiro Planeta, chamado por nós de Terra, também conhecido como Urantia, do sistema solar, da Via Láctea, ficamos felizes ao perceber as formas psíquicas criadas pelo pequenos habitantes do Planeta Amarelo, concretizadas em espirais esfumaçadas, a nos lembrar, talvez, as madrugadas cerimoniais do Tibet, nas quais os lamas inclinavam o tronco ao reverenciar o Uno.
Um leve sorriso emerge e matiza o rosto do sábio San Yukio Takabaishi. Ele pensa em como, no século vinte e um, ingenuamente ainda se acreditava que globalização significava as mesmas formas em todos os lugares do planeta. Uma uniformização da linguagem. Hoje, no ano 3.000, segundo o calendário da era cristã, não se fala em globalização, mas em Dimensões Harmônicas, significando que os universos e as dimensões tem duas possibilidades de comunicação, dois pontos de encontro, dois nós ou núcleos tradutores, dois núcleos capazes de tudo unir e tudo contar/transmitir, o ponto Alfa e o ponto Ômega, dois símbolos do começo e do fim de um universo que não tem nem fim e nem começo. Nota curiosa é que, adotado em todas as dimensões, o ponto Alfa também é conhecido como ponto Jorge Luis Borges, homenagem ao escritor argentino que viveu no século vinte em Urantia e que fundamentou a sua maneira de perceber o mundo através de um ponto especial, o ponto Alfa, do qual tudo se via e percebia, passado, presente e futuro. A realidade, na era das Dimensões Harmônicas, é duas vezes maior do que pensava Borges, mas ninguém foi tão longe naquela época.
Entretanto, a nova ciência que reúne a arqueologia, psicologia e antropologia, a XXXXX, identificou vigorosos indícios deste universo de particularidades. Ser global ou, posteriormente, universal, não significa ser igual a todos, não significa o achatamento da individualidade. Ao contrário, significa o aprofundamento da diferença, mas com a consciência de que tudo é parte do todo. Daí esta expressão multidimensional, “percepção integral”. Um destes indícios foi sem dúvida a aceitação por milhões de pessoas de uma forma simples de comunicação, a história em quadrinhos. Desde os murais egípcios é um sistema narrativo que divide o espaço em quadrados e retângulos, para significar o percurso no tempo e no espaço dos personagens. No século vinte serviu de modelo para uma expressão artística chamada de Pop Art e influenciou as formas narrativas do romance, da mídia impressa, da mídia eletrônica e das artes, em geral. E, no século XXI, o Mangá, criado no Japão, mostrou claramente que, a cada vez, a fisionomia cultural de cada país, é essencial na comunicação entre os povos. Pois, como haveria comunicação, sem que houvesse troca entre diferentes ? Assim era no século XXI, assim é em nossos dias, a época da comunicação entre os povos de milhões de galáxias. O Mangá, herdeiro da gravura japonesa, conta a saga imaginária de heróis que, olhados bem de perto, nos remete à saga dos guerreiros samurais e dos poetas peregrinos que percorriam o Japão no século XVII poetizando a linguagem nas pequenas aldeias de sua pátria.


Jacob Klintowitz

sábado, 14 de novembro de 2009

Porque ver os mestres - Artigo publicado na revista “Revista da Indústria”, FIESP, nº154, outubro de 2009

A nossa paisagem cultural tem outra fisionomia, está mais transparente, como se este ano só nos oferecesse uma única estação, a primavera. Há muitos meses, em razão do Ano da França no Brasil, estão entre nós e convivem no nosso país alguns mestres universais como Henri Matisse, Marc Chagall, Henri Cartier-Bresson, Juan Gris, Georges Braque, Fernand Léger, Jean Dubeffet, entre outros. E com eles brasileiros que formaram neste contato íntimo, como Antonio Bandeira, Sérgio de Camargo, Flávio Shiró Tanaka, Ligia Clark, Caciporé Torres. Este artigo começou com uma dúvida, eu deveria escrever “porque ver os mestres” ou “por que ver os mestres?”. A diferença está em afirmar a qualidade de uma experiência pessoal única ou indagar se esta ainda é uma relação significativa. Eu optei pelo prazer deste contato com esta fonte rara, o mestre. Eu posso definir o que é um mestre. Para Guimarães Rosa mestre é aquele que de repente aprende. Para a nossa vivência, mestre é aquele artista que quando o contemplamos sempre parece que o estamos vendo pela primeira vez. Ou quando o vemos pela primeira nos parece que o estamos revendo. Os mestres, tal a sua carga de densidade humana, nos ajudam a entender o que somos e quem somos. Os mestres estão além das circunstâncias sociais, econômicas e políticas. Entretanto todos estes elementos podem estar na sua obra, mas será sempre o pano de fundo. Neles é o campo de ação onde atuam os seres humanos. Os mestres pertencem à história, como todos nós, mas não são medidos apenas pela história, mas pela dimensão nuclear que portam do destino humano. Eles têm data de nascimento, mas não são datados, no sentido de pertencerem unicamente à uma época. O prazer que contemplar os mestres nos dá é insuperável. É a alegria da alma com o auto- reconhecimento e o êxtase da perceber a possível dimensão humana. A alta estética nos possibilita exatamente isto, o vislumbre e a descoberta da perenidade dos valores humanos. Talvez o homem tenha sido feito á semelhança de Deus. Jacob Klintowitz